domingo, 19 de junho de 2016

O sucesso dos tratamentos personalizados de pacientes com câncer estão sedimentando o caminho para a cura da doença

     “Cura” não é uma palavra usada com frequência pelos oncologistas. Em geral, falam de “remissão” da doença. Mas nos últimos cinco anos os tratamentos de pacientes com câncer progrediram muito. Mais de 70 novos medicamentos foram lançados no mercado e a descrição dos efeitos de alguns deles como algo revolucionário não é uma hipérbole, pelos menos para os pacientes que tiveram a sorte de reagir bem à sua ação.
O diagnóstico de um melanoma em estágio avançado significava uma sentença de morte. A expectativa de vida em média era de seis a nove meses. Mas os recentes medicamentos imuno-oncológicos, que utilizam o sistema imunológico do corpo para combater os tumores, são tão eficazes que, em cerca de um quinto dos casos, alguns especialistas consideram que os pacientes foram curados.
Esse tipo de notícia otimista está dando um novo vigor às pesquisas sobre o câncer. Na conferência anual da American Society of Clinical Oncology (ASCO), realizada de 3 a 7 de junho em Chicago, os médicos não só mostraram os novos medicamentos, como também relataram a evolução do uso dos remédios existentes. Os diagnósticos estão mais precisos, os métodos modernos examinam os pontos fracos de cânceres em partes do corpo que as biópsias convencionais não conseguem alcançar e detectam tumores em lugares antes impossíveis de localizar. Em consequência, os médicos estão adotando a abordagem da medicina personalizada, na qual os tratamentos são adaptados às características específicas dos pacientes e dos tipos de câncer.
Hoje, o câncer é visto menos como uma doença de determinados órgãos, e sim como uma disfunção do mecanismo molecular causada pela mutação de genes específicos. Um estudo apresentado na ASCO revelou que 29 dos 129 pacientes reagiram bem aos medicamentos originalmente aprovados para uso em partes do corpo diferentes da localização dos tumores desses pacientes. Além disso, os medicamentos que têm como alvo o gene HER2 presente em alguns tipos agressivos de câncer de mama e de estômago tiveram uma resposta positiva.
Esses medicamentos impedem o crescimento de uma proteína produzida em excesso em tumores HER2-positivo e reduz os tumores. Sete dos 20 pacientes com câncer colorretal, três dos oito com câncer de bexiga e três dos seis com câncer de via biliar reagiram bem a esses remédios.
O tratamento personalizado de pacientes com câncer já é uma realidade. Com a detecção de problemas em estágio inicial e o começo do tratamento logo em seguida as chances de salvar vidas são muito maiores. Um conhecimento mais profundo dos processos subjacentes do câncer ampliará o número de vidas que a medicina quer salvar. Ainda há um longo caminho a percorrer. Mas aos poucos e com uma lógica inexorável os tribunais de apelação da oncologia estão rasgando as sentenças de morte de pacientes com câncer.

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