segunda-feira, 29 de dezembro de 2014

O FUTURO DOS OCEANOS

Os mares constituem o maior espaço vital do nosso planeta. Sabemos da função-chave que exercem para a nossa existência. Porém, a infinita imensidão dos oceanos foi menos investigada do que a superfície da Lua. Por isso, a investigação oceanográfica é uma das grandes tarefas que a ciência tem para com a sociedade.
Os oceanos cobrem mais de 70% da superfície do nosso planeta, albergando o maior ecossistema coeso da Terra. O nosso futuro vai depender de como a circulação oceânica vai ser modificada pela mudança do clima, da subida do nível do mar, com perigos para as regiões costeiras e os arquipélagos, e da acidificação dos mares pela crescente absorção de dióxido de carbono (CO2) dissolvido. Nos oceanos existem enormes jazidas de recursos que a longo prazo poderão ser aproveitadas pelo ser humano. Mas por exemplo já hoje a pesca predatória alcançou dimensões dramáticas nos mares. Para poderem desenhar uma imagem exata dos oceanos de hoje e do futuro, cientistas, políticos e a sociedade precisam de informações claras. Até agora, as “profundezas dos oceanos” quase não foram investigadas ainda, constituindo por essa razão um dos últimos destinos para viagens de descobrimento no planeta.
O oceano acolhe aproximadamente um quarto do dióxido de carbono liberado pelo ser humano. Se não existisse este “coletor” natural, grandes quantidades deste gás do efeito estufa permaneceriam na atmosfera e o nosso planeta aqueceria muito mais do que se verifica hoje.
O outro lado da moeda é que na água do mar o dióxido de carbono se transforma em ácido carbônico. O pH da água diminui: a água se torna mais ácida. Outra consequência é a diminuição da concentração de íons de carbonato. Porém, são justamente esses íons de carbonato que seres vivos produtores de cálcio como o plâncton ou os corais precisam para crescerem.
Estudos de laboratório com espécies isoladas realizados pelos oceanógrafos em Kiel mostram que algas calcárias unicelulares, os chamados cocolitoforídeos, em águas ácidas produzem menos calcário e ganham menos peso. Sob condições extremas, as pequenas escamas de calcário da espécie Calcidiscus leptoporus se dissolvem. Em águas ácidas, a espécie Emiliania huxleyi inicialmente também armazena bastante menos calcário. Porém, ao longo de várias gerações novos genótipos mais resistentes se impõem, formando novas mutações. Dessa forma, a alga consegue compensar em parte os efeitos negativos da acidificação.

Devido à mudança do clima, a temperatura do oceano sobe, o valor do pH diminui e a acidez do oceano aumenta. Isso prejudica o processo de formação de calcário dos organismos e retarda o crescimento de muitas espécies tropicais de coral.
O mesmo seria válido também para os corais de águas frias nas profundezas escuras do mar? Em experimentos de laboratório, a espécie Lophelia pertusa resistiu à crescente acidificação, desde que tivesse alimentação suficiente à sua disposição. Os biólogos marinhos em Kiel estudaram os efeitos que temperaturas mais elevadas e maior acidez da água têm sobre a scleractinia.
Para verificar se os resultados de laboratório são transferíveis para as condições naturais, os cientistas do GEOMAR em julho de 2013 montaram um observatório a longo prazo num fiorde norueguês, do qual são provenientes as amostras utilizadas nos experimentos em laboratório. Outro objetivo do estudo é a investigação dos efeitos recíprocos entre os seres vivos.
Mesocosmos têm a função de representar o complexo ecossistema marinho em escala pequena. Como em enormes tubos de ensaio, pesquisadores podem observar as alterações de comunidades biológicas inteiras pela acidificação dos oceanos. Os trabalhos da KOSMOS-Mesocosmos de Kiel comprovaram que minúsculos organismos de plâncton tiram proveito da acidificação. A sua produtividade aumentada poderá inverter toda a cadeia alimentar. Além disso, menos carbono migra para o oceano profundo, ocorrendo uma diminuição da produção de dimetilsulfureto, um gás que esfria o clima.
Um estudo com mesocosmos na Noruega mostra, porém que é difícil transferir as observações feitas em laboratório para as comunidades biológicas: enquanto que em experimentos de laboratório com água ácida a alga calcária da espécie Emiliania huxleyi mostrou apenas uma ligeira diminuição da taxa de crescimento, sob condições semelhantes no seu habitat natural ela não consegue se impor se estiver em competição com outras algas ou sujeita à pressão de predadores ou a vírus.


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