sábado, 1 de fevereiro de 2014

A Justiça intimidada


O adiamento do julgamento do caso Manoel Mattos na Paraíba não foi mera estratégia do MP Federal e dos advogados de acusação contra os pistoleiros que mataram o militante petista. O script sigiloso é tenso, triste e envolve trama digna de cinema, com intimidação e assassinato patrocinados por grupos de extermínio.
A maioria dos jurados alegou problemas de saúde às vésperas do julgamento dos assassinos, marcado para 5 de dezembro. Foi o segundo adiamento. Dia 18 de novembro o júri já fora suspenso por falta de quórum — de 25 sorteados, só 18 foram notificados e, no dia, 7 sumiram de João Pessoa.
Advogados e promotores de todo o Brasil, e a Corte Interamericana de Direitos Humanos, estão de olho no julgamento. O processo é o primeiro federalizado do País. O pernambucano Manoel Bezerra de Mattos Netto, advogado de causas sociais, foi assassinado a tiros no litoral sul da Paraíba em 2009. Os pistoleiros foram presos, mas os mandantes ainda são um mistério. O fracasso da tentativa de julgamento consolidou a suspeita de que algo anda muito errado.
É fato. Numa recente operação policial no estado, sem qualquer ligação com o caso Mattos, os delegados descobriram com um bandido a lista completa dos jurados do caso, seus endereços e telefones. A lista explica o temor do júri. Com a forte suspeita de tentativa de cooptação ou intimidação, os procuradores alertaram uma desembargadora do Tribunal Regional Federal da 5ª Região, que concedeu liminar suspendendo o julgamento.
Não bastasse a Justiça intimidada, fatos criminosos recentes tornaram o clima mais tenso. Semana passada, foi assassinado em Pedras de Fogo, no interior da Paraíba, o primo do pistoleiro Sérgio Paulo da Silva, que prometera abrir o bico no tribunal, segundo reportagem de Humberto Lira e Ainoã Geminiano, do Correio da Paraíba. Para a polícia, foi um recado dos verdadeiros contratantes do matador.
A data e o local do novo julgamento dos cinco pistoleiros réus serão decididos pela Terceira Turma do TRF, e o júri todo deve ser substituído. Não se descarta escolta policial para cada um dos jurados até o dia do novo julgamento. O caso da lista está sob investigação da PF sob sigilo.

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