quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

Kaspersky ironiza Brasileiros

"Cibercriminosos surgem principalmente na América Latina, China e países próximos à Rússia. Na América Latina, eles estão principalmente no Brasil". Essas foram as palavras de Eugene Kaspersky, co-fundador e CEO da Kaspersky, companhia russa de soluções de segurança on-line mundialmente conhecida por ter lançado o antivírus homônimo que é considerado por muitos o melhor para PC.

Eugene disse isso nesta manhã, durante a conferência de sua empresa no World Mobile Congress 2010, em Barcelona. O objetivo da apresentação era o lançamento da nova versão do Kaspersky Mobile Security 9 – suíte de segurança para smartphones - mas Eugene introduziu o assunto falando a respeito do cenário mundial de crimes on-line.

Quando perguntado por mim, um brasileiro, sobre os possíveis fatores que influenciam esse alto nível de criminalidade virtual no Brasil, o CEO respondeu com muita naturalidade: "Isso provavelmente ocorre pelo mesmo motivo que os crimes tradicionais ocorrem, como assaltos e sequestros, com muita frequência por lá. É uma mistura de fatores econômicos e sociais combinados a alguma característica da mentalidade local. Curiosamente, por exemplo, a Índia também é um país pobre, mas o desenvolvimento de spam não é muito forte lá" - e complementou com um exemplo prático - "Na semana passada, alguns executivos da Kaspersky estiveram em uma reunião no Brasil e foram assaltados. Por sorte, eu não estava entre eles", brincou.

A palestra de Eugene enfatizou o desenvolvimento rápido e bem organizado dos criminosos virtuais. Segundo ele, o primeiro vírus de computador surgiu em 1981 - o Elk Kloner, que atacava computadores Apple, mais populares que os PCs na época. Nas décadas de 80 e 90, foram crescendo as epidemias e malwares, desenvolvidas pelo que ele apelidou de "script-kiddies" - os "garotos do script", programadores muito jovens que transformaram a criação de vírus e ameaças virtuais em carreira profissional.

Exemplo disso está na própria figura de outro executivo da Kaspersky presente na conferência: Denis Maslennikov, que lidera o grupo de pesquisas em ameaças móveis. Com um crucifixo de prata no pescoço, cabelos compridos, barbicha e camiseta preta, Denis não aparenta ter mais que vinte anos, provocando até mesmo risos nos mais indiscretos jornalistas na platéia.

Não que eu queira dizer que ele começou sua carreira como hacker - afinal isso seria mera especulação de minha parte - mas isso exemplifica o quanto as pessoas que trabalham nessa área são jovens e criam novas soluções (ou novos problemas) com facilidade. O problema é que nem sempre essas "mentes brilhantes" estão no "lado Jedi da Força", e a maioria dos usuários tem muita dificuldade em compreender o funcionamento e a gravidade dessas ameaças, tornando-se alvos fáceis para quem investe seu tempo pensando em novas maneiras de ludibriar o internauta para ter acesso a seus dados pessoais.

Imagine então o grau de atenção do usuário no que diz respeito ao ambiente de computação/telefonia móvel, ainda tão pouco abordado quando o assunto é vírus e malware. Segundo Eugene Kaspersky, as ameaças virtuais móveis têm um passado ainda muito recente, pois começaram a surgir em 2004, com o primeiro worm para celular - o Cabir, que atacava aparelhos com o sistema operacional Symbian. A partir daí, se desenvolveram as primeiras epidemias, quando finalmente esses malwares para celular passaram a ser comercializados no mercado negro em 2008.

"O crime virtual não funciona exatamente como uma máfia, ao contrário do que as pessoas pensam. Não é como se fosse uma organização criminosa convencional. Os cibercriminosos agem como uma indústria, assinando contratos e tudo mais. A diferença é que eles são totalmente ilegais. Não fazem conferências de imprensa como essa para divulgar seus negócios, por exemplo, nem pagam impostos", afirma Eugene, com a franqueza de quem conhece bem o assunto. E como agem feito empresários, a tendência é que essa atividade ilegal somente cresça, já que os smartphones se aproximam cada vez mais dos computadores pessoais.

"Esses criminosos são movidos por dinheiro. Quanto mais os smartphones estiverem sendo usados para lidar com dinheiro, como acesso a serviços bancários e pagamentos, mais cibercriminosos entrarão nesse negócio", comenta Eugene, que acredita que os dispositivos móveis irão em breve substituir os notebooks. "Tudo o que teremos é um smartphone poderoso ligado a um teclado que se dobra como um Transformer, para ocupar pouco espaço". No momento em que ele diz isso, surge uma imagem conceitual um pouco exagerada de propósito no telão, arrancando risos dos jornalistas, mas ao mesmo tempo provocando uma reflexão a respeito dessa tendência.

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